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  • Foto do escritor: Mariana Bacigalupo Martins
    Mariana Bacigalupo Martins
  • 10 de jan.
  • 4 min de leitura

Atualizado: 22 de fev.


Filha adolescente e sua mãe
Filha adolescente e sua mãe

Por que as relações entre mães e filhas podem ser tão complicadas e às vezes tão conflituosas? Por que a ligação entre uma filha e sua mãe pode ser tão poderosa e por vezes até mesmo invasiva? Estas foram algumas das perguntas que tinha na época em que apresentei meu trabalho de conclusão de curso e que foi fonte para construção deste post.


O trabalho pode ser consultado na íntegra https://repositorio.pucsp.br/jspui/handle/handle/43966


Penso que tais questões se apresentaram em um momento em que eu buscava minha própria identidade numa tentativa de me posicionar frente ao universo profissional e amoroso.


Para este fim, fiz uma pesquisa teórica recorrendo às ideias de importantes autores no âmbito psicanalítico e colori o trabalho com a entrevista de uma mulher, médica e mãe de duas meninas adolescentes onde a problemática teórica pôde ser desenvolvida e exemplificada.


Pude observar que mães e filhas, fazem parte da mesma e enorme rede de identificações femininas que, de geração em geração, procuram entre as imagens femininas guardadas na memória, semelhanças em meio aos sentimentos ambivalentes de inveja, raiva, amor e proteção. Procuram a figura que melhor dirá de seu self, isto é, que melhor representará o seu Eu. Esse movimento de busca de identidade parece não ter parada no caso da mulher.


De geração em geração, modificando e deixando-se modificar, a mulher busca o que desejar e o que finalmente lhe trará completude numa alternância sem fim. Seu movimento dialético de constituição e desconstrução da identidade e a metonímia do desejo fazem dela metáfora e imprevisível poeta.


Winnicott (1964) diz que toda mulher é três em um, pois enquanto o homem nasce com um tremendo impulso para ser um só, a mulher começa sendo três pois ela é menina, mãe e avó, qualidade que faz dela “bastante enganadora” característica muitas vezes atribuída ao sexo feminino.


Ainda que o homem também pertença a uma cadeia genealógica, a presença do pênis parece jogá-lo na direção do desbravamento do desconhecido. Já a mulher, procura descobrir entre os retalhos de sua história, quem é e a que veio enredando-se mais e mais na busca das semelhanças e diferenças e no entendimento dos seus sentimentos.


Para a Psicologia a formação do ser feminino ou do ser masculino, não é determinada apenas pela biologia, mas por uma construção social e especialmente pela cultura e pela linguagem na qual o sujeito está inserido. Inicialmente a psicanálise se debruçou sobre o desenvolvimento psicossexual do masculino para somente depois, e a partir do modelo do homem, abordar o feminino e apesar deste viés inicial, Freud trouxe uma importante contribuição trazendo à baile a ligação quase indissolúvel da menina com sua mãe e a longa permanência da menina na fase que ele chamou de pré-edípica.


Segundo a concepção freudiana, alcançar a feminilidade exige da menina um trabalho oneroso que pode durar por toda a vida. Este trabalho não é necessário no caso dos meninos, pois ao contrario destes, a menina precisa se desvencilhar do seu primeiro objeto de amor - a mãe, e dirigir ao pai seus impulsos e investimentos amorosos. Em um segundo momento a menina procura se identificar com aquela que foi seu primeiro objeto de amor (a mãe/mulher) esperando receber do pai o falo do qual se vê privada.


Além disso, em seu desenvolvimento psicossexual, a menina se dá conta da existência da vagina como outro órgão sexual além do clitóris (que foi a fonte de excitação sexual desde a tenra infância) e intui que este órgão possui papel preponderante em relação a sua sexualidade. Diante de toda essa problemática, Freud questiona qual seria o motivo da menina se dar a todo este trabalho psíquico?


Talvez seja por isso que a fase pré-edípica e a forte ligação da menina com a mãe perdure por tanto tempo. Para Freud esta ligação da menina com sua mãe, seria a razão dos sentimentos ambivalentes, intenso amor e ódio na relação mãe-filha.  


Outro complicador no desenvolvimento da feminilidade é que a identificação da menina com a mãe é facilitada quando a identidade passa pela maternidade. A dificuldade aparece em relação à constituição do ser mulher, pois para a menina a mulher é psiquicamente representada por uma falta enquanto a mãe é representada pela presença do bebê.


Assim, para além da maternidade, se pode concluir ao longo do da discussão e analise feita no trabalho, que a especificidade da mulher esteja em ser muitas e em não ser nenhuma. É a qualidade de poder mudar e ainda permanecer, rever posições, tolerar, doar e amar e ao mesmo tempo invejar e odiar: plenas de contradições e únicas na forma de viver e pensar. Através das figuras femininas, em um movimento dialético de se projetar e se identificar a mulher vai costurando uma rede de semelhanças e de imprevisibilidade que a enraíza no seu passado e a compromete com seu futuro.


Frente a essa problemática que envolve mães, filhas e mulheres, a psicoterapia pode ajudar a compreender este processo e os sentimentos envolvidos trazendo por fim, alivio e uma nova forma de lidar com essa relação por vezes tão complicada.



Referencia Bibliográfica:

 

A feminilidade e a relação mãe-filha. São Paulo: 2002. Texto baseado no trabalho de conclusão da faculdade de graduação de psicologia PUCSP.

 

O trabalho pode ser consultado na íntegra em https://repositorio.pucsp.br/jspui/handle/handle/43966


 


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